A ÚLTIMA AULA
O tempo corre e a vida na Terra se transforma. Para nós, que aqui habitamos e não podemos nos deslocar com a velocidade da luz, os acontecimentos se sucedem inexoravelmente e o presente se transmuda, todos os dias, em passado. Ontem, dia 15 de junho de 2012, ministrei na UERJ minha última aula de graduação, porque em agosto próximo deverei aposentar-me compulsoriamente. Já se foram m...ais de 35 anos de magistério superior, sempre na cadeira de direito penal. Comecei minha carreira docente na Universidade Federal do Paraná, passei pela Universidade Católica do Paraná, pela Universidade Estadual de Londrina, pela PUC/RJ, pela Uni-Rio para, finalmente, terminar na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Durante esse período, cada vez de modo atualizado, procurei transmitir aos meus alunos o conhecimento daquilo que a ciência penal produziu no Brasil e no mundo. Intensifiquei o estudo da dogmática penal, percorri com os estudantes todos os caminhos e meandros das teorias, dos critérios de racionalidade, de suas possibilidade e impossibilidades.
Minha preocupação foi desenvolver nos estudantes uma visão crítica do direito, dentro daquela tradição tão bem representada pela Escola de Frankfurt. Meu objetivo não era, primordialmente, buscar soluções, mas apresentar problemas, levar ao extremo uma dialética negativa, única forma de fazer com que as pessoas refletissem sobre as contradições de uma legislação repressiva em face de uma sociedade essencialmente desigual, desumana e profundamente comprometida com uma visão autoritária. Busquei mostrar os antagonismos e as incoerências dessa sociedade e das políticas estatais que a representam no âmbito das normas incriminadoras. Sempre dediquei meu tempo a me opor às soluções mirabolantes e messiânicas, todas essas sedimentadas na crença de que por meio do direito penal se poderia alcançar a proteção infinita e a eterna felicidade. Essa crença vã jamais habitou meu pensamento; afastei-a de minhas aulas; monitorei cada frase de meus escritos para que não a encampassem; sugeri constantemente aos estudantes que dela se libertassem. Meu magistério foi voltado a outra crença, à crença na pessoa humana e em sua luta constante e eterna por sua liberdade. Não sei se consegui formar seguidores ou simpatizantes, mas cumpri meu dever de assinalar a todos que outro mundo é possível.
inestimável perda para os alunos da graduação. mas seguem os livros, as palestras, as bancas e as aulas na pós! com a energia crítica de sempre. forte abraço professor. salo
ResponderExcluirSegue na resistência crítica, sem dúvida.
ResponderExcluirMensagem da Prof. Janaina Paschoal:
ResponderExcluir"O Professor Juarez merece os parabéns pela obra de vida. Agradeço todos os ensinamentos. E não posso deixar de expressar minha indignação diante de uma norma ridícula, que aponsenta gênios, no auge de sua capacidade de produção e colaboração. No lugar de aposentá-los, deveríamos implorar para que eles continuassem nos iluminando com suas aulas. É certo que há os livros, as palestras, as bancas. Mas a graduação, injustificadamente, perde. Mais uma regra a ser revista. Lanço aqui a proposta de discutirmos essa necessária alteração, Abraço gde. da Janaina Paschoal".
Mensagem do Prof. Juarez Cirino:
ResponderExcluir"Amigo Juarez Tavares,
Os comentários sobre tua Última Aula, o breve histórico de vida, a reafirmação dos teus objetivos como professor, como cientista e como político - sempre cumpridos com determinação e coragem - e a disposição de continuar a luta pela liberdade e pela igualdade de todos os seres humanos, nos deixaram emocionados. A Universidade brasileira, em geral, e o Sistema de Justiça Criminal, em especial, seriam diferentes, menos elitistas e menos injustos, se pudéssemos ter mais professores e aplicadores do Direito como você. Receba o abraço afetuoso e os cumprimentos mais calorosos dos que sempre estiveram na mesma trincheira pela construção de um mundo melhor, que só pode acontecer como conquista da luta concreta dos explorados e oprimidos de um mundo cada vez mais desigual e injusto.
Juarez Cirino, Mariane, June e Gigi"
Acho que é uma perda, eu pela a minha parte fico muito triste pois não me foi possível escuitar a o professor Tavares na aula, mais foi sua intervenção no "Simposio Internacional: Los estrategas del crimen y sus instrumentos: El autor detrás del autor en el Derecho penal Latinoamericano" suficiente pra simpatizar con seus pensamentos e crenças, alem que foi aquele evento que me permitiu conhecer-le e ter uma boa lembrança de ele como pessoa e como professor.
ResponderExcluirAbraço desde a Colombia e parabéns pela suas realizações na vida e muitos ensinamentos que ficaran pra as pessoas que como eu començan a luta...
Comentário do Prof. Tiago Joffify:
ResponderExcluir"Compulsoriedade. Para um homem que dedicou a vida à defesa da liberdade, a idéia da aposentadoria coercitiva deve mesmo soar como uma pena. E a pena, como tão bem ensinou Juarez, é sempre irracional, inútil e injusta. Felizmente, a solução para esse tipo de opressão estatal também povoava as aulas do mestre, que, agora, pode valer-se de seus próprios ensinamentos para não se deixar subjugar. Tenho certeza de que, ele, no exercício do direito fundamental à desobediência, resistirá e continuará nos brindando, por muito tempo, com seus ensinamentos. Obrigado, amigo e mestre. Tiago Joffily."
Comentário do Prof. Eugênio Pacelli:
ResponderExcluir"Caríssimo Professor Juarez, não poderia deixar passar em branco, ainda que com um pouco de atraso. Sua contribuição ao Direito Penal é daquelas grandezas transcendentes que se originam apenas da pena de quem se imortaliza entre os seus. Devo a você a honraria de ter me apresentado ao público brasileiro, além de poder partilhar de sua amizade. Mas, devo muito mais, certamente, pelo contato com seus trabalhos, a renovar a estima e o respeito, e a perpetuar nossa incondicional admiração. Fraterno abraço!"
Tive a honra de ser aluno do prof. Juarez na Uerj por 3 semestres seguidos.Ficaram as lições de Direito e mais ainda as de Justiça !
ResponderExcluirAndré Fernandes - estudante