Fico aqui com os meus botões supondo qual seria o comportamento de "Veja"
et caterva se um imaginário parlamento venezuelano ou boliviano, com
hegemonia de partidos de esquerda, depusesse sumária e inapelavelmente um
presidente civil, de direita, com base em pretextos ridículos e acusações
levianas e abstratas, escorado em prova alguma – houve instrução no processo,
direito à prova? –, tudo isso em algumas frenéticas e breves trinta horas,
depois das quais o bispo vermelho descansou em paz, com suas ideias de
reforma agrária e sua vasta e escandalosa prole, em encenação grotesca que só
não foi mais rápida do que o reconhecimento expresso do novo governo emitido
pela cavalaria – digo, chancelaria – do Tio Sam e seu presidente
democrata.
Possivelmente, essa mídia não revelaria a mesma ética e a mesma isenção profissional com que tratou o caso do senador boliviano Roger Pinto Molina, que em seu país é considerado delinquente comum, acusado de assassinato em 21 processos diferentes, incluído o massacre de camponeses. Essa mesma mídia que nos fez latejar os ouvidos no caso Cesare Battisti abandonou todos os seus princípios, todos os valores democráticos e pruridos morais, toda sua energia hercúlea e – tchan, tchan, tchan! – deu uma notinha de rodapé sobre o refúgio político senatorial, de modo indulgente, imperceptível. Como se estivesse a dizer: “Vocês, de esquerda, não fossem mero espelhismo, seriam mesmo uns trouxas!”.
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