Este blog se inspira no grito antifascista "não passarão!" («¡No pasarán!») e pretende servir como um espaço de diálogo e resistência ao processo de fascistização da sociedade brasileira. Na atual quadra histórica, em que é possível identificar várias características do fascismo clássico na sociedade brasileira (parece evidente que existem fascismos para além do fenômeno italiano), vale lembrar das palavras eternizadas por Dolores Ibárruri Gómez (La Pasionaria), durante a Guerra Civil Espanhola, com o objetivo de expressar a determinação de defender uma posição contra o inimigo que se aproximava.
O lema antifascista também foi utilizado na Revolução Sandinista na qual ruas foram bloqueadas pela população em defesa dos revolucionários, e, desde então, ressurge sempre que um movimento autoritário apareça como ameaça.
Hoje, mostra-se cada vez mais crível a hipótese de que as crises do capitalismo fazem nascer movimentos fascistas. Na linha desenvolvida tanto por Leandro Konder (KONDER, Leandro. Introdução ao fascismo. São Paulo: Expressão Popular, 2009, p. 53) quanto por Robert Owen Paxton (PAXTON, Robert. A anatomia do fascismo. Trad. Patrícia e Paula Zimbres. São Paulo: Paz e Terra, 2007, p. 43) pode-se afirmar que as forças capitalistas, incapazes de assegurar a expansão contínua dos mercados, o amplo acesso à matéria-prima e à mão barata (e obediente), o controle sobre as populações indesejadas (leia-se: daqueles que não interessam à sociedade de consumo) e os movimentos reivindicatórios por meio de operações adequadas ao modelo democrático, viram-se obrigadas a encontrar novas maneiras de alcançar esses objetivos pela força, ou seja, o projeto capitalista, não raro, tem que assumir a forma de um movimento fascista.
No fascismo, o Estado apresenta-se como superior a todos os indivíduos. Estes, portanto, ficam subordinados às razões estatais e a um poder praticamente sem limites. Há uma tentativa de edificação de um Estado total, isto é, um Estado que se sobreponha ao indivíduo a ponto de anulá-lo. Não por acaso, a intolerância torna-se uma constante, o que leva à repressão da diferença. Nega-se, portanto, a alteridade e acentua-se a criação e a preocupação com os inimigos do Estado, com aqueles que criticam ou não acatam as razões do Estado. Note-se que as tentativas de solucionar os problemas de saúde pública (como as questões das drogas etiquetadas de ilícitas e do aborto) e de controlar reivindicações populares (basta pensar no fenômeno da criminalização dos movimentos sociais) através do sistema penal são manifestações desse Estatismo que se vinculam ao ideário fascista.
Outra característica marcante é o fato do fascismo se apresentar como um fenômeno racional ou mesmo natural. O fascismo e as práticas fascistas aparecem para os seus adeptos como conseqüências necessárias do Estado, dessa relação entre homens que dominam outros homens através do recurso à violência que se apresenta como legítima. Assim, como toda forma de ideologia, o fascismo não é percebido como tal por seus agentes: tem-se, então, a naturalização de práticas fascistas, mesmo em ambientes formalmente democráticos.
Também é reconhecida como característica dos movimentos fascistas o seu pronunciado ativismo, com o recurso à força como meio preferencial à solução dos diversos problemas sociais. Por evidente, os freqüentes excessos gerados por esse ativismo passam a exigir uma ampla cumplicidade entre os membros do establishment: magistrados, promotores de justiça, policiais, militares, jornalistas, homens de negócio e etc.
Os vários fascismos também sempre tiveram a necessidade de um inimigo demonizado contra o qual utilizar a força, ou melhor, em razão do qual a utilização da força estaria legitimada. Esse inimigo é o "estranho". Na pós-modernidade, o estranho a ser demonizado (e, portanto, objeto em potencial do sistema penal e das práticas fascistas) é aquele que não está inserido funcionalmente na sociedade de consumo ou que se opõe ao status quo.
Hoje, vivenciam-se os efeitos de mais uma crise do capitalismo e, no Brasil, acentua-se um novo processo de fascistização da sociedade. Mulheres que dão a luz algemadas, toque de recolher em comunidades pobres, a gestão da miséria através do Exército, a prisão de lideranças dos movimentos sociais, os episódios de violência policial contra estudantes, as agressões a dependentes químicos, a arapongagem em universidades públicas, o aumento no número de Autos de Resistência (a polícia brasileira é a mais letal do mundo: a que mais mata e a que mais morre), o encarceramento em massa da população pobre, a desqualificação dos defensores dos direitos humanos, os movimentos legislativos que defendem o recrudescimento do sistema penal, dentre outros fenômenos que se tornaram cotidianos, são sintomas de que o fascismo se faz presente.
Diante desse quadro, o lema é: não passarão! Conto com a colaboração de todos neste espaço.
Bem-vindo!!!! Blogar é viciante!!!! Parabéns!
ResponderExcluirBom vê-lo por aqui. Abração.
ExcluirÉ isso aí, seja bem-vindo!
ResponderExcluirParabéns pelo belíssimo texto!!
ResponderExcluirParabéns Rubens, seja bem vindo!!!
ResponderExcluirGianna Barcelos
FDC/Campos-RJ
Enorme (na acepção própria da palavra), brilhante e intrépida iniciativa! Mais do que sucesso, desejo que as suas ideias inspirem a todos os leitores!
ResponderExcluirBem-vindo à blogosfera!!
ResponderExcluirsuper beijo!
Marcelle
Amor, parabéns pelo blog. Super orgulhosa de vc.
ResponderExcluir1. Gosto disso, prezado, dos chamamamentos para que resistamos, porque resistir é preciso, viver não é preciso.
ResponderExcluir2. Ao tornar-me seu (fiel) seguidor, sob o número de registro 59, e considerando que sua primeira postagem provocou congestionamento na blogosfera - parece o apóstolo, aquele, que entupiu a Dutra - devo sugerir, como acato e o respeito devidos, que você implemente um Programa de Fidelidade que ofereça aos seus (fieis) seguidores, por exemplo a cada 100 visitas, descontos em livrarias, vinotecas ou, melhor ainda, abatimentos nas pesadas custas judiciais que impedem que muita gente possa ser socorrida pela justiça.
3. De todo modo, diante dos significados do número 59 (que você póde verificar com qualquer numerologista), nã rola aí uma canetinha, ou uma agendazinha feita de polpa de bananeira reciclada?
4. Seja muito bem-vindo à trincheira!
Paulo Roberto "Cadê Meu Brinde?" Cequinel
The 59th Ornitorrinco Corporation
O Blog ficou maneiríssimo.
ResponderExcluirA ideia é incrível. Debato com amigos, principalmente no cartório sobre o tema, e agora vem publicamente à tona.
Parabéns!!!
Grande abraço.
Guilherme nº 63
ExcluirBravo!!!
ResponderExcluirMuito bom o seu blog! Parabéns!!
ResponderExcluirObrigada por partilhares conosco tuas ideias, criando um espaço que será mais uma das fundamentais ferramentas que constribuirão no processo transformador da sociedade atual.
ResponderExcluirTua apresentação fala por si só.
Parabéns!!
Janice.
Vim por indicação via Facebook..
ResponderExcluirBoa análise e muito bom o texto!
Aguardando mais..
=)
Rubens, é por argumentos como os seus, que não vislumbro outra alternativa a não ser uma só: a derrubada do Estado e do Capitalismo.
ResponderExcluirAntes que me chame de utópico, delirante, ingênuo ou infantil, não imagino isso acontecendo através do enfrentamento, como se tem tentado.
Imagino isso acontecendo através do desaparecimento, do nomadismo, do imediatismo, da criação de zonas autônomas temporárias, semi-permanentes e, sempre que possível permanentes e da criação de alternativas dentro das rachaduras do Estado e do Capital que passem a se tornar colaterais momentaneamente invisíveis aos mecanismos de controle do poder.
A história da Revolução Anarquista da Espanha de 1936 foi muito bem narrada por Rudolf Rocker, em A Tragédia da Espanha, livro que recomendo a todos. Fiz um resumo mas ainda não consegui digitar...
Um abraço e parabéns pelo novo blog. O meu vc encontra em http://reinehr.org
Rafael, vou conferir. Abs.
ExcluirCaro Rubens,
ResponderExcluirO trecho: (...) "Hoje, mostra-se cada vez mais crível a hipótese de que as crises do capitalismo fazem nascer movimentos fascistas. Na linha desenvolvida tanto por Leandro Konder (KONDER, Leandro. Introdução ao fascismo. São Paulo: Expressão Popular, 2009, p. 53) quanto por Robert Owen Paxton (PAXTON, Robert. A anatomia do fascismo. Trad. Patrícia e Paula Zimbres. São Paulo: Paz e Terra, 2007, p. 43) pode-se afirmar que as forças capitalistas, incapazes de assegurar a expansão contínua dos mercados, o amplo acesso à matéria-prima e à mão barata (e obediente), o controle sobre as populações indesejadas (leia-se: daqueles que não interessam à sociedade de consumo) e os movimentos reivindicatórios por meio de operações adequadas ao modelo democrático, viram-se obrigadas a encontrar novas maneiras de alcançar esses objetivos pela força, ou seja, o projeto capitalista, não raro, tem que assumir a forma de um movimento fascista." (...) me fez querer conhecer mais sobre o tema e me interessar por questões sociais de ampla importância e profunda necessidade!
O que você me sugere como leitura inicial sendo leigo no assunto?
Conte com meu apoio em prol da prosperidade deste blog que desde já demonstra-se promissor!
Um forte abraço e; Não passarão!
Rodrigo de Melo Bezera
São Paulo, 18 de janeiro de 2012
Rodrigo, tem muita coisa boa escrita sobre o tema. Além dos livros do Konder e do Paxton já citados, diria para você dar uma olhada em: BOBBIO, Noberto. "Do fascismo à democracia". Rio de Janeiro: Elsevier, 2007; e MANN, Michel. "Fascistas". Rio de JAneiro: Record, 2008.
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ResponderExcluirApoiadíssimo pelo lúcido texto que retrata uma realidade que não se restringe ao Brasil, quiçá, dentre outros, temos um viés na Alemanha por meio do Direito Penal do Inimigo de Günther Jakobs. Parabéns !
ResponderExcluirUma pergunta! Quando alguém xinga outra pessoa de fascista, o que isso significa? Hoje é um "xingamento" tão comum. Se possível alguem me explicar. Obrigada
ResponderExcluirBão...
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